Há dois séculos que o mundo fala do famoso sermão: Pecadores
nas mãos de um Deus irado e dos ouvintes que se agarravam aos bancos pensando
que iam cair no fogo eterno. Esse fato foi, apenas, um dos muitos que
aconteceram nas reuniões em que o Espírito Santo desvendava os olhos dos
presentes para eles contemplarem as glórias do Céu e a realidade do castigo que
está bem perto daqueles que estão afastados de Deus.
Jônatas Edwards, entre os homens, era o vulto maior nesse
avivamento, que se intitulava O grande despertamento. Sua vida é um exemplo destacado
de consagração ao Senhor para o desenvolvimento maior do intelecto e, sem
qualquer interesse próprio, de deixar o Espírito Santo usar o mesmo intelecto
como instrumento nas suas mãos. Amava a Deus, não somente de coração e alma,
mas também de todo o entendimento. "Sua mente prodigiosa apoderava-se
das verdades mais profundas". Contudo, "sua alma era, de fato, um
santuário do Espírito Santo". Sob aparente calma exterior, ardia nele o
fogo divino, como um vulcão.
Os crentes atuais devem a esse herói, graças à sua
perseverança em orar e estudar sob a direção do Espírito, a volta às várias
doutrinas e práticas da igreja primitiva. Grande é o fruto da dedicação do lar
em que Edwards nasceu e se criou. Seu pai foi o amado pastor de uma só igreja
durante um período de sessenta e quatro anos. Sua piedosa mãe era filha de um
pregador que pastoreou uma igreja durante mais de cinqüenta anos.
Dez das irmãs de Jônatas, quatro eram mais velhas do que ele
e seis mais novas. "Muitas foram as orações que os pais ofereceram a Deus,
para que o único e amado filho fosse cheio do Espírito Santo, e que se
tornasse grande perante o Senhor. Não somente oravam assim, fervorosa e
constantemente, mas mostravam-se igualmente zelosos em criá-lo para Deus. As
orações, à volta da lareira, os estimularam a se esforçarem, e seus esforços
redobrados os motivaram a orarem mais fervorosamente... O ensino religioso e
permanente resultou em Jônatas conhecer intimamente a Deus, quando ainda
criança".
Quando Jônatas tinha sete ou oito anos, houve um
despertamento na igreja de seu pai, e o menino acostumou-se a orar sozinho,
cinco vezes, todos os dias, e a chamar outros da sua idade para orarem com
ele.
Citamos aqui as suas palavras sobre esse assunto: "A
primeira experiência, de que me lembro, de sentir no íntimo a delícia de Deus
e das coisas divinas, foi ao ler as palavras de 1 Timóteo 1.7: 'Ora, ao Rei
dos séculos, imortal, invisível; ao único Deus seja honra e glória para todo o
sempre. Amém'. Sentia a presença de Deus até arder o coração e abrasar a alma
de tal maneira, que não sei descrevê-la... Gostava de passar o tempo olhando
para a lua e, de dia, a contemplar as nuvens e os céus. Passava muito tempo
observando a glória de Deus, revelada na natureza e cantando as minhas
contemplações do Criador e Redentor... Antes me sentia demasiado assombrado ao
ver os relâmpagos e ouvir a troar do trovão. Porém mais tarde eu me regozijava
ao ouvir a majestosa e terrível voz de Deus na trovoada". Antes de
completar treze anos, iniciou seu curso em Yale College, onde, no segundo ano,
leu atentamente a famosa obra de Locke: Ensaio sobre o entendimento humano.
Vê-se, nas suas próprias palavras acerca dessa obra, o grande desenvolvimento
intelectual do moço: "Achei mais gozo nisso do que o mais ávido avarento,
em ajuntar grandes quantidades de ouro e prata de tesouros
recém-adquiridos".
Edwards, antes de completar dezessete anos, diplomou-se no
Yale College com as maiores honras. Sempre estudava com esmero, mas também
conseguia tempo para estudar a Bíblia, diariamente. Depois de. diplomar-se,
continuou seus estudos em Yale, durante dois. anos e foi então separado para o
ministério.
Foi nessa altura que seu biógrafo escreveu acerca de seu
costume de dedicar certos dias para jejuar, orar e examinar-se a si mesmo.
Acerca da sua consagração, com idade de vinte anos, Edwards
escreveu: "Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando
a mim mesmo e tudo que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em
qualquer sentido, para não me comportar como quem tivesse direitos de forma
alguma... travando, assim, uma batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim
da vida".
Alguém assim se referiu a Jônatas: "Sua constante e
solene comunhão com Deus, em secreto, fazia com que o rosto dele brilhasse
perante o próximo, e sua aparência, semblante, palavras e todo o seu
comportamento eram acompanhados por seriedade, gravidade e solenidade".
Aos vinte e quatro anos casou-se com Sara Pierrepont, filha
de um pastor, e desse enlace nasceram, como na família do pai de Edwards, onze
filhos.
Ao lado de Jônatas Edwards, no Grande Despertamento, estava
o nome de Sara Edwards, sua fiel esposa e ajudadora em tudo. Como seu marido,
ela nos serve como exemplo de rara intelectualidade. Profundamente estudiosa,
inteiramente entregue ao serviço de Deus, ela era conhecida por sua santa
dedicação ao lar, pelo modo de criar seus filhos e pela economia que praticava,
movida pelas palavras de Cristo: "Para que nada se perca". Mas antes
de tudo, tanto ela como seu marido eram conhecidos por suas experiências em
oração. Faz-se menção destacada especialmente dum período de três anos, durante
o qual, apesar de gozar de perfeita saúde, ficava repetidas vezes sem forças,
por causa das revelações do Céu. A sua vida inteira foi de intenso gozo no
Senhor.
Jônatas Edwards costumava passar treze horas, todos os dias,
estudando e orando. Sua esposa, também, diariamente o acompanhava na oração.
Depois da última refeição, ele deixava toda a lida, a fim de passar uma hora
com a família.
- Mas, quais as doutrinas de que a igreja havia esquecido e
quais as que Edwards começou a ensinar e a observar de novo, com manifestações
tão sublimes?
Basta uma leitura superficial para descobrir que a
doutrina, à qual deu mais ênfase, foi a do novo nascimento, como sendo uma
experiência certa e definida, em contraste com a idéia da Igreja Romana e de
várias denominações.
O evento que marcou o começo do Grande Despertamento foi uma
série de sermões feitos por Edwards sobre a doutrina da justificação pela fé,
que fez os ouvintes sentirem a verdade das Escrituras, de que toda a boca
ficará fechada no dia de juízo, e que "não há coisa alguma que, por um
momento, evite que o pecador caia no Inferno, senão o bel prazer de Deus".
É impossível avaliar o grau do poder de Deus, derramado
para despertar milhares de almas, para a salvação, sem primeiro nos lembrarmos
das condições das igrejas da Nova Inglaterra, e do mundo inteiro, nessa época.
Quem, até hoje, não se admira do heroísmo dos puritanos que colonizaram as
florestas da Nova Inglaterra? Passara, porém, essa glória e a igreja,
indiferente e cheia de pecado, se encontrava face com o maior desastre. Parecia
que Deus não queria abençoar a obra dos puritanos, obra que existiu unicamente
para sua glória. Por isso, no mesmo grau que havia coragem e ardor entre os
pioneiros, houve entre seus filhos, perplexidade e confusão. Se não pudessem
alcançar, de novo, a espiritualidade, só lhes restava esperar o juízo dos
céus.O famoso sermão de Edwards, ''Pecadores nas mãos de um Deus irado",
merece menção especial.
O povo, ao entrar para o culto, mostrava um espírito
leviano, e mesmo de desrespeito, diante dos cinco pregadores que estavam
presentes. Jônatas Edwards foi escolhido para pregar. Era homem de dois metros
de altura; seu rosto tinha aspecto quase feminino, e o corpo magro de jejuar e
orar. Sem quaisquer gestos, encostado num braço sobre a tribuna, segurando o
manuscrito na outra mão, falava em voz monótona. Discursou sobre o texto de
Deuteronômio 32.35: "Ao tempo em que resvalar o seu pé".
Depois de explicar a passagem, acrescentou que nada evitava,
por um momento, que os pecadores caíssem no Inferno, a não ser a própria
vontade de Deus; que Deus estava mais encolerizado com alguns dos ouvintes do
que com muitas pessoas que já estavam no Inferno; que o pecado era como um fogo
encerrado dentro do pecador e pronto, com a permissão de Deus, a transformar-se
em fornalhas de fogo e enxofre, e que somente a vontade do Deus indignado os
guardava da morte instantânea.
Prosseguiu, então, aplicando o texto ao auditório: "Aí
está o Inferno com a boca aberta. Não existe coisa alguma sobre a qual vós vos
possais firmar e segurar. Entre vós e o Inferno existe apenas a atmosfera...
há, atualmente, nuvens negras da ira de Deus pairando sobre vossas cabeças,
predizendo tempestades espantosas, com grandes trovões. Se não existisse a
vontade soberana de Deus, que é a única coisa para evitar o ímpeto do vento até
agora, serieis destruídos e vos tornaríeis como a palha da eira... O Deus que
vos segura na mão, sobre o abismo do Inferno, mais ou menos como o homem
segura uma aranha ou outro inseto nojento sobre o fogo, durante um momento,
para deixá-lo cair depois, está sendo provocado em extremo... Não há que
admirar, se alguns de vós com saúde e calmamente sentados aí nos bancos,
passarem para lá antes de amanhã..."
O resultado do sermão foi como se Deus arrancasse um véu dos
olhos da multidão para contemplar a realidade e o horror da posição em que
estavam. Nessa altura o sermão foi interrompido pelos gemidos dos homens e os
gritos das mulheres; quase todos ficaram de pé, ou caídos no chão. Foi como se
um furacão soprasse e destruísse uma floresta. Durante a noite inteira a cidade
de Enfield ficou como uma fortaleza sitiada. Ouvia-se, em quase todas as casas,
o clamor das almas que, até aquela hora, confiavam na sua própria justiça.
Esperavam que, a qualquer momento, o Cristo descesse dos céus com os anjos e
apóstolos ao lado, e que os túmulos entregassem os mortos que neles havia.
Tais vitórias, contra o reino das trevas, foram ganhas de
joelhos. Edwards não abandonara, nem deixara de gozar os privilégios das
orações, costume que vinha desde a meninice. Continuou a freqüentar, também, os
lugares solitários na floresta onde podia ter comunhão com Deus. Como um
exemplo citamos a sua experiência com a idade de trinta e quatro anos, quando
entrou na floresta, a cavalo. Lá, prostrado em terra, foi-lhe concedido ter
uma visão tão preciosa da graça, amor e humilhação de Cristo como Mediador, que
passou uma hora vencido por uma torrente de lágrimas e pranto.
Como era de esperar, o Maligno tentou anular a obra gloriosa
do Espírito Santo no "Grande Despertamento", atribuindo tudo ao
fanatismo. Em sua defesa Edwards escreveu : "Deus, conforme as
Escrituras, faz coisas extraordinárias. Há motivos para crer, pelas profecias
da Bíblia, que sua obra mais maravilhosa seria feita nas últimas épocas do
mundo. Nada se pode opor às manifestações físicas, como as lágrimas, gemidos,
gritos, convulsões, falta de forças... De fato, é natural esperar, ao
lembrarmo-nos da relação entre o corpo e o espírito, que tais coisas
aconteçam. Assim falam as Escrituras: do carcereiro que caiu perante Paulo e
Silas, angustiado e tremendo; do Salmista que exclamou, sob a convicção do
pecado: 'Envelheceram os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo' (Salmo
32.3); dos discípulos, que, na tempestade do lago, clamaram de medo; da Noiva,
do Cântico dos Cânticos, que ficou vencida, pelo amor de Cristo, até
desfalecer..."
Certo é que na Nova Inglaterra começou, em 1740, um dos
maiores avivamentos dos tempos modernos. É igualmente certo que este movimento
se iniciou, não com os sermões célebres de Edwards, mas com a firme convicção
deste, de que há uma "obra direta que o Espírito divino faz na alma
humana". Note-se bem: Não foram seus sermões monótonos, nem a eloqüência
extraordinária de alguns, como Jorge Whitefield, mas, sim, a obra do Espírito
Santo no coração dos mortos espiritualmente, que, "começando em
Northampton, espalhou-se por toda a Nova Inglaterra e pelas colônias da América
do Norte, chegando até a Escócia e a Inglaterra". De uma época de maior
decadência, a Igreja de Cristo, entre a população escassa da Nova Inglaterra,
despertou e foram arrebatadas de trinta a cinqüenta mil almas do Inferno
durante um período de dois a três anos.
No meio das suas lutas, sem ninguém esperar, a vida de
Jônatas Edwards foi tirada da Terra. Apareceu a varíola em Princeton e um hábil
médico foi chamado de Filadélfia para inocular os estudantes. O nosso pregador
e duas de suas filhas foram também vacinados. Na febre que resultou, as forças
de nosso herói diminuíram gradualmente até que, um mês depois, faleceu.
Assim diz um de seus biógrafos: "Em todo o mundo onde
se falava o inglês, era considerado o maior erudito desde os dias do apóstolo
Paulo ou de Agostinho".
Para nós, a vida de Jônatas Edwards é uma das muitas provas
de que Deus não quer que desprezemos as faculdades intelectuais que Ele nos
concede, mas que as desenvolvamos, sob a direção do Espírito Santo, e que as
entreguemos desinteressadamente para o seu uso.
FONTE: Herois da Fé
de Orlando Boyer. Editora CPAD.
http://assembleianospuritanos.blogspot.com.br/2011/04/biografia-jonathan-edwards-o-grande.html
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