Incêndio de Roma |
busto de Nero
|
Assim estavam as coisas quando, na noite de 18 de julho do
ano 64, estalou um enorme incêndio em Roma. Ao que parece, Nero se encontrava
na ocasião, em sua residência de Antium, a umas quinze léguas de Roma, e assim
que se soube o que sucedia correu a Roma, onde tratou de organizar a luta
contra o incêndio. Para os que haviam ficado sem refúgio, Nero fez abrir seus
próprios jardins e vários outros edifícios públicos. Mas tudo isso não bastou
para afastar as suspeitas que logo caíram sobre o imperador a quem muitos já
tinham por louco. O fogo durou seis dias e sete noites e depois voltou a se
acender em diversos lugares por três dias mais. Dez dos catorze bairros da
cidade foram devorados pelas chamas. Em meio a todos seus sofrimentos, o povo
exigia que se descobrisse o culpado, e não faltava quem se inclinasse a pensar
que o próprio imperador havia ordenado o incêndio da cidade para poder
reconstruí-la a seu gosto, como um grande monumento a sua pessoa. O historiador
Tácito, que provavelmente se encontrava em Roma conta vários dos rumores que
circulavam, e ele mesmo parece dar a entender a sua opinião, pelo qual o
incêndio havia começado acidentalmente num depósito de azeite.
Mas, cada vez mais as suspeitas recaíam sobre o imperador.
De acordo com os rumores, Nero havia passado boa parte do incêndio no alto da
torre de Mecenas, no cume do Palatino, vestido como um ator de teatro, tangendo
sua lira e cantando versos acerca da destruição de Tróia. Logo começou a
propalar-se que o imperador, em seus desatinos de poeta louco, havia incendiado
a cidade para que o sinistro lhe servisse de inspiração. Nero fez todo o
possível para afastar as suspeitas de sua pessoa. Mas todos seus esforços
seriam inúteis enquanto não se fizesse recair a culpa sobre outro. Dois dos
bairros que não haviam queimado, eram as zonas da cidades em que havia mais
judeus e cristãos. Portanto, o imperador pensou que seria mais fácil culpar os
cristãos.
O historiador Tácito, parecia crer que o fogo fora acidente,
portanto, a acusação feita contra os cristãos seria falsa. Ele mesmo nos conta
o sucedido:
DOCUMENTO:
“Apesar de todos os esforços humanos, da liberalidade do
imperador e dos sacrifícios oferecidos aos deuses, nada bastava para apartar as
suspeitas nem para destruir a crença de que o fogo havia sido ordenado.
Portanto para destruir esse rumor, Nero fez aparecer como culpados os cristãos,
uma gente odiada por todos por suas abominações, e os castigou com mui refinada
crueldade. Cristo a quem tomam o nome, foi executado por Pôncio Pilatos durante
o reinado de Tibério. Detida por um instante essa superstição daninha pareceu
de novo, não somente na Judéia, onde estava a raiz do mal, mas também em Roma,
esse lugar onde se narra e encontram seguidores de todas as coisas atrozes e
abomináveis que chegam desde todos os rincões do mundo. Portanto, primeiro
foram presos os que confessaram (ser cristão), e baseada nas provas que eles
deram foi condenada uma grande multidão, ainda que não os condenaram tanto pelo
incêndio mas sim pelo seu ódio à raça humana” (TÁCITO, Anais, 15:44).
martírio dos cristãos |
Essas palavras de Tácito são valiosíssimas, pois constituem
um dos mais antigos testemunhos que chegam até nossos dias do modo como os pagãos
viam os cristãos. Ao ler estas linhas, torna-se claro que Tácito não cria que
os verdadeiros culpados de terem incendiado Roma fossem os cristãos. Ainda mais
a “refinada crueldade” de Nero não recebe sua aprovação. Mas ao mesmo tempo,
esse bom romano, pessoa culta e distinta em sua época, crê muito do que dizem
os rumores acerca das “abominações” dos cristãos, e de seu “ódio pela raça
humana”. Tácito e seus contemporâneo não nos dizem em que consistiam essas
“abominações” que supostamente praticavam os cristãos. Temos que esperar até o
século segundo para encontrar documentos em que descrevem esses rumores
maliciosos. Mas seja o que for, o fato é que Tácito crê nesses rumores, e pensa
que os cristãos odeia a humanidade. Isso se compreende se recordarmos que todas
as atividades da época – o teatro, o exército, as letras, os esportes, etc. –
estavam tão ligados ao culto pagão quer os cristãos se viam obrigados a se
ausentarem delas. Portanto, diante dos olhos de um pagão que amava sua cultura
e sua sociedade, os cristãos pareciam ser misântropos que odiavam toda raça
humana.
Moeda com a efígie de Nero |
Mas Tácito prossegue, contando-nos o sucedido em Roma por
causa do grande incêndio:
DOCUMENTO:
“Além de matá-los (aos cristãos) fê-los servir de diversão
ao público. Vestiu-os em peles de animais para que os cachorros os matassem a
dentadas. Outros foram crucificados. E a outros acendei-lhes fogo ao cair da
noite, para que a iluminassem. Nero fez que se abrissem seus jardins para esta
exibição, e no circo ele mesmo ofereceu um espetáculo, pois se misturava com as
multidões, disfarçado de condutor de carruagem, ou dava voltas em sua
carruagem. Tudo isso fez com que despertasse a misericórdia do povo, mesmo
contra essas pessoas que mereciam castigo exemplar, pois via-se que eles não
eram destruídos para o bem público, mas para satisfazer a crueldade de uma
pessoa” (TÁCITO, Anais 15:44)
Uma vez mais, vemos que esse historiador pagão, sem mostrar
simpatia alguma com pelos cristãos, dá a entender que o castigo era excessivo,
ou ao menos que a perseguição teve lugar, não em prol da justiça, mas por
capricho do imperador. Além disso, nestas linhas temos uma descrição, escrita
por uma pessoa que não foi cristã, das torturas a que foram submetidos aqueles
mártires.
Os Remorsos de Nero após matar sua mãe, por John William Waterhouse, 1878. |
Fonte:http://historiaebiblia.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário