Por Robson Fernando
para o Acerto de Contas
Tradição secular, a fogueira de São João está se aproximando
da época em que será vista como um costume proibitivo e não-recomendável, se
não já começou a ser vista assim. Assim como o balão poliédrico a fogo, tem
inconvenientes importantes que fazem a continuidade de seu uso ser algo nocivo,
dessa vez para o meio ambiente, vide desmatamento e poluição.
Em época de sonoros debates sobre preservação das florestas
e proposições de diminuição máxima de emissões de gases de efeito-estufa e
poluentes, os fogaréus juninos vêm sendo escancarados como elementos causadores
de um impacto ambiental notável e evitável, o qual nunca foi quantificado em
dados mas é fortemente perceptível antes e durante os dias de festejo.
Dados sobre quanto de madeira é retirado a cada ano de matas
virgens, reflorestadas ou de plantação para a montagem de fogueiras no Nordeste
são difíceis de ser encontrados, mas, percorrendo-se avenidas e estradas de
muitas cidades nordestinas, pode-se ter uma ideia de que houve um significante
estrago nos ecossistemas explorados para tal fim, em especial em áreas de Mata
Atlântica – incluindo brejos de altitude – e de Caatinga.
As pilhas de lenha à venda para confecção de fogueiras são
enormes e lembram predominantemente troncos e galhos de árvores de vegetação
tropical ou semiárida. Como raramente há garantia de que vieram de manejo
florestal, pode ser deduzido que a cada ano é feito um significativo dano,
infelizmente jamais medido ou sequer estimado em números, nas matas
nordestinas. Contudo, não há nenhuma lei, pelo menos em Pernambuco,
regulamentando a extração de madeira para fins de comemoração das festas
juninas.
Além do evidente desmatamento anual que o São João
“provoca”, chama atenção também a poluição gerada. A queima da lenha gera uma
relevante fumaça que, além de ameaçar a saúde de quem está próximo, suja
substancialmente o ar. Uma única fogueira parece não fazê-lo tanto, mas, quando
observamos, por exemplo, uma praça rodeada por seis fogueiras, o ar torna-se
irrespirável e a fumaça em cima da área toma um aspecto quase espesso,
lembrando um pequeno incêndio florestal.
Não é só o ar sujo que depõe contra a fogueira junina, mas
também o clima terrestre como um todo. Talvez apenas um fogo pareça desprezível
quando se considera a atmosfera do planeta, mas, quando somamos os milhares ou
talvez milhões de fogueiras acesas no Nordeste na segunda metade de junho de um
ano, percebemos a emissão de toneladas e toneladas de gases-estufa altamente
poluentes, contribuindo para as perversas mudanças climáticas globais. Quando
multiplicamos por 15 anos então, a “ajuda” dada ao efeito-estufa é bastante
pomposa.
A consciência que reconhece os inconvenientes ambientais da
fogueira, no entanto, ainda é incipiente na região e, conseqüentemente, a
resistência cultural ao abandono desse costume ainda é grande, tanto quanto a
intransigência perante os apelos de defensores animais sobre a crueldade contra
animais presente nas vaquejadas.
Considerada essa realidade, o surgimento de uma campanha na
mídia pela aposentadoria das fogueiras de São João, semelhante à feita contra
os balões poliédricos que corriam o risco de causar incêndios, é esperado para
os próximos anos. Fica aqui a recomendação de que comece o quanto antes, pelo
menos de forma gradual, tendo tão logo um pontapé inicial com, por exemplo,
Caruaru abandonando o costume em prol de um São João ecologicamente correto e
ensinando às pessoas que a fogueira é um estorvo ambiental que não faz falta
para os festejos.
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P.S.: Como é época de prova e trabalho na universidade,
tenho ficado sem tempo para escrever sobre o desmatamento de Suape. Em julho
vou voltar a ter o tempo necessário para voltar a pesquisar e escrever sobre o
maior ecocídio da história pernambucana.
Robson Fernando é graduando em Ciências Sociais pela UFPE e
dono do blog Arauto da Consciência
Fonte da imagem e texto:http://acertodecontas.blog.br/
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